Translate

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Servidores do Incra Belém aderem a movimento nacional de paralisação

Servidores da superintendência regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Belém decidiram, nesta quinta-feira (29), paralisar os serviços da autarquia, de 03 a 05 maio, como forma de pressionar o governo federal a negociar as reivindicações da categoria. Eles querem a isonomia salarial entre as carreiras de nível superior do órgão; reajuste salarial para os servidores de nível médio e a reestuturação do plano de carreiras do Incra.

Com a decisão de paralisar a autarquia, os servidores do Incra também aderem ao movimento nacional contrário ao projeto de lei 549/09, que propõe o congelamento salarial dos servidores públicos federais por dez anos e a redução de investimentos no serviço público, dentre outras medidas. No Pará, das três superintendências regionais do Incra, somente a de Santarém ainda não aderiu ao movimento paredista.

Apoio parlamentar - Na sexta-feira (30), representantes dos servidores do Incra Belém se reúnem com os deputados federais Paulo Rocha (PT-PA) e Beto Faro (PT-PA) para pedir o apoio dos parlamentares à luta nacional da categoria. Vão solicitar aos deputados que encaminhem ofício nesse sentido ao Ministério do Planejamento (MPOG), onde serão retomadas as negociações das reivindicações, iniciadas em julho de 2009, em razão de um acordo assinado em março de 2008, e suspensas unilateralmente pelo governo federal em março desde ano.

A reunião com os parlamentares acontecerá na sede da superintendência do Incra, às 9 hrs, na Estrada da Ceasa, s/n. Bairro do Sousa. Belém

Contato: Herbert Marcus e Sidney Dantas Tel: (91)91046987

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sobre o amapá como abstração

Às vésperas do natal de 2001, o jornal mineiro Hoje em Dia publicou uma crônica intitulada "Toalha de restaurante alemão", do colunista Eduardo Almeida Reis, que causou a mesma polêmica que vem causando no Amapá o texto "Amapá, uma abstração", de Rogério Borges, publicado na seção “Crônicas e Outras Histórias”, edição de 07/04/2010, do até então desconhecido jornal O Popular, de Goiânia.

Sem entrar na polêmica sobre a forma do texto, se crônica ou não, vejo na abstração do Reis sobre o Amapá o humor nada sutil da Toalha mineira. Nada a ver com as provocações imbecis do Mainard, um fascitóide idiota, e com o ensaio "Abraxas: uma abstração e outros absurdos literários", de Damnus Vobiscum, cuja relação, vista por alguns, fica somente no título.

Por isso causou-me estranheza ninguém fazer referência ao texto de 2001, que motivou o Ministério Público amapaense a promover ação contra o jornalista mineiro, em que pedia uma indenização de R$ 50 milhões por danos morais ao povo do Amapá (não sei que bicho deu a ação do MP).

Em seu blog, o autointitulado "jornalista por vocação" goiano se defende das acusações que lhe são feitas por amapaenses e se queixa dos ataques pessoais que vêm sofrendo. Tem razão. Artigos e comentários postados em blogs que divulgaram seu texto são reveladores de um chauvinismo cego, além de uma uma grosseria típica dos ignorantes.

Mas é difícil aceitar seus argumentos literários em defesa de um texto que, mesmo admitindo-o como crônica, expôs a falta de humor e a crítica mordaz presentes, por exemplo, nas crônicas de um Luis Verissimo, quando aborda temas delicados, que envolvem questões étnico-raciais, culturais e costumes sociais e políticos.

Ao longo da história da humanidade, escritores e artistas utilizaram o riso como arma de combate à opressão e injustiças. É a sátira que permite a abordagem de questões que não poderiam ser de outra forma, por se situar no limite entre a tensão política e a banalidade social - duas forças que se contrapõem - fazendo transbordar o riso em diferentes formas.

Para isso, no entanto, é preciso que o escritor/artista conheça profundamente a realidade criticada e tenha domínio da forma do gênero que utiliza, seja uma crõnica, um conto ou a poesia. A de Gregório de Matos, exemplo de sátira barroca, ao apontar erros e defeitos vigentes à época, através do humor, manifesta uma profunda relação com a terra em que habita. A sátira de Gregório busca a afirmação de uma brasilidade em oposição a dominação (identidade) portuguesa.

Se eu esculhambasse com o Amapá - tipo: sabe por que o Amapá não afunda? Não, é porque merda não afunda - outros amapaenses ririam disso. A razão é simples, estamos situados em um mesmo contexto, o outro amapaense entenderia as razões da minha chacota, mesmo pegando pesado. A linguagem de baixo calão e o chiste estão entre as manifestações que surgem através da sátira. Quem viu a comédia de costumes Ver do Ver-O-Peso, do grupo paraense Experiência, sabe do que estou falando.

O nosso Borges não entendeu nada disso. Mexeu com forças que se opõem, para ele desconhecidas. Mesmo dando todos os descontos possíveis à forma e ao conteúdo de seu texto, para os amapaenses não passa de um "estrangeiro" que fala mal da terrinha, sem com ela ter alguma forma de relação que justifique, incluindo o plano emocional, a esculhambação; mexeu com forças telúricas e identidades conflitantes de um povo que se sente historicamente marginalizado e objeto de preconceitos por brasileiros de outros estados. Vistos somente através de fatos negativos, como todos os outros amazônidas.

Tal o Géografo de Itambé do Mato Dentro (pseudônimo utilizado pelo colunista mineiro), Rogério Borges pode botar a culpa no Sarney pela inexistência do Amapá e nos surrealistas Marimbondos de Fogo que o elegeram senador pelo estado.

Mas não escapará do destino dos aprendizes de feiticeiro: de tornar-se um imortal da Academia dos Contadores de Piada sem Graça.