Um prédio de 34 andares da construtora Real Classic, localizado na Travessa 3 de Maio, em Belém-PA, desabou no início da tarde deste sábado, 29/01. Até o presente momento somente foi encontrado o corpo de uma moradora, vizinha ao prédio. Estima-se que de 3 a 5 operários trabalhavam na obra no momento do desmoronamento.
Informações repercutidas por TVs dão como causa do desabamento a passagem de um avião às proximidades do prédio; outra versão aponta um raio como responsável pela queda do edifício. Não demora e aparece alguém acusando um boi voador terrorista como causador do desabamento.
No blog Espaço Aberto, o engenheiro civil e professor da Universidade Federal do Pará (Ufpa), Nagib Charone Filho, dá como plausível a versão do raio e considera "precipitado, neste momento, afirmar-se que o desmoronamento teria sido decorrente de problemas nos alicerces". Se o alicerce não estava comprometido deve ter sido a pomba do Espírito Santo que causou a implosão.
Não sou engenheiro, mas estou convicto que aviões só derrubam edificios quando usados como mísseis e raios somente implodem os edifícios construídos pela teoria estapafúrdia dos incompetentes.
Temo que as informações desencontradas façam parte de uma tentativa de se lançar uma cortina de fumaça para encobrir as causas reais da queda do Real Classic, como ocorreu em agosto de 1987, quando o edifício Raimundo Farias desabou, matando dezenas de operários que lá trabalhavam.
A imagem acima, dos escombros do Real Classic, feita por Adauto Rodrigues, reaviva-me as lembranças daquele 13 de agosto de 1987. Fui o primeiro jornalista a chegar lá e a última reportagem fotográfica que fiz pelo Diário do Pará.
Começava meu plantão às 17 horas, quando alguém telefonou para a redação, informando que um edificio na Doca acabara de desabar. Ao chegar no local e ver os escombros pensei que era boato - a quantidade de escombros não condizia com a informação de 12 andares. Pessoas que por ali passavam não se davam conta de que houvera uma tragédia, apesar da poeira fina que baixava, espalhando um cheiro ácido e forte de cimento e concreto.
Ao subir nos escombros me deparei com os primeiros cadáveres. Desfoquei as imagens, não ousava retratar a cena em toda sua crueza. Pessoas começaram a chegar e a cavar, desesperadas, em busca de sobreviventes. Passei a ajudar, esquecendo que estava ali como jornalista. Esse é um dos dilemas que vivemos nas tragédias, mesmo estando acostumados a vivenciá-las no nosso dia a dia.
Achamos somente um sobrevivente em meio aos escombros, mesmo antes da chegada dos bombeiros. Era um operário, de nome José, que viria a morrer às cinco horas da manhã do dia seguinte. A capa do Diário do Pará nesse dia foi uma foto de José, dentro do buraco em que se encontrava, com o título "Que viva José".
E José morreu, com ele mais 38 operários, segundo a contagem oficial; na contagem do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil o número chegava a quase 50. A causa provável do desabamento foi a utilização de material de baixa qualidade na construção. O pilar central cedeu, fazendo o prédio afundar literalmente.
Após anos e anos tramitando na justiça, as ações contra os responsáveis pelo edificio prescreveram, à força de recursos e mais recursos, com a conivência de muitos. Ninguém foi punido.
As famílias dos operários não foram indenizadas como deveriam e nem sequer puderam enterrar seus mortos, à exceção de José e de outros cinco, se não me falha a memória, cujos corpos ficaram desfocados em minhas fotos. E o caso foi completamente esquecido.