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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Move-me


I

Move-me a areia feita de pedras, sol e sal.
Movediça miragem de um deserto solitário,
onde se enterram segredos de conchas e estrelas.
Agonia-me a vida um mar profundo em que se afogam lembranças,
rastro inatingível de tristeza.

Minha vida é esse barraco abandonado na paisagem da minha janela,
de vidros estilhaçados e grades que me protegem do vazio e memórias alheias,
do nada que emerge da noite em lampejos de sombras e miados em cio,
de névoa envolvendo a cidade, alongando os dias,
- como a cortina que acoberta o passo de um bêbado trôpego no lixo da rua
a confundir a cor das folhas e o sentido das coisas.

II

As luzes frias postadas na rua me dão a falsa sensação de segurança.
O cheiro da terra pingada de chuva se mistura à fumaça em minha narina.
O vício é o vazio das coisas pintadas no claro-escuro da noite de minha janela.
Que sentido há na hera margeando calhas e cabos oxidados em busca do teto,
senão perder-se no abandono do casarão?
Qual o sentido da noite
outro que perseguir sonhos esquecidos no correr dos dias?

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