Translate

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Reforma agrária também é cultura II

O Festival Terra Viva Terra de Arte começou em um final de tarde do sertão cearense com um cortejo dos grupos culturais pelas ruas de Canindé. Conduzido por Amir Haddad (foto ao lado) e Júnior Santos (foto abaixo), grandes incentivadores do teatro de rua, o cortejo fez a festa no centro da cidade habituada às romarias a São Francisco.


À noite, nos palcos Mestre Neo Ramos e Patativa do Assaré, montados na Praça de Canindé, centro da cidade, grupos de teatro e de dança formados principalmente por jovens dos assentamentos mostraram a que vieram.




Impressionou-me em particular o espetáculo Ventos e Vales: Caminhos de Seguir, do grupo de dança Sementes da Terra, do assentamento Valparaíso-CE (foto ao lado), e o Tambor de Crioula , da comunidade quilombola de Filipa, vindos de Itaperucu Mirim-MA (foto abaixo).





Foi uma grande surpresa. Extasiante!

Há muito que manifestações artísticas não me tocavam assim.

Os últimos espetáculos que mexeram comigo foram feitos por portadores de necessidades especiais e internos de um hospital psiquiátrico. Nesses espetáculos de dança, teatro e exposição de pinturas a vida pulsava em formas estéticas que faziam eriçar todos os pelinhos da alma.
............
Assim os espetáculos do Viva Arte, manifestação da vivência dos agricultores. De uma cultura forjada na luta pela terra e por cidadania, feita com alegria e criatividade, que busca forjar uma identidade em que a tradição é uma ponte para a criação do novo.
.

>>> Em breve estarei postando no Picasa uma série de fotos do Terra Viva.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Reforma agrária também é cultura

....
....
Após 10 dias de ocupação equivocada e irresponsável do Incra em Belém pelos sem-tora da Federação dos Trabalhadores na Agricultua Familiar (Fetraf), passei quatro dias em Canindé, cidade do sertão central do Ceará, fazendo a cobertura fotográfica do Festival de Cultura TERRA VIVA TERRA DE ARTE, de 25 a 28/11.
....
O festival, em sua primeira versão, é resultado de um trabalho desenvolvido ao longo de seis anos pelo Projeto Cultura e Arte na Reforma Agrária, do Incra, e grupos culturais de assentamentos do Ceará.
... ...
Uma beleza o Terra Viva Terra de Arte!
.








....

Clique sobre as fotos para visualizar em tamanho maior.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Felipe


Foi num desses domingos em que o inverno faz uma pausa de nuvens opacas e sobem aos céus andorinhas em vôos espiralados. Uma tarde morosa de inverno. O céu se abriu e Felipe se foi, encoberto em nuvens translúcidas, adejando sobre a baía.

Na segunda, foram-se médicos cubanos em um vôo anônimo, no desvão da intolerância, enquanto flores e dizeres post-morten em um cemitério de Macapá ficaram lembrando a curta existência de um menino.

Com palavras tento estabelecer relações entre duas partidas aparentemente tão distintas e, no entanto, faces de uma mesma moeda, ou de um dado jogado não por acaso.

Recuo no tempo e o carro branco que dirijo avança trôpego sobre a linha da beira-rio; tudo me parece frágil ante a força da baía, em que sinto gritar a dor de Nete que chora, e o carro seguindo o fim de tarde, a tênue linha do horizonte a desfazer-se para deixar passar a noite. Temo as palavras, elas escapam-me entre as mãos e estou preso ao volante de um carro sem rumo.

A baía revolta bate contra o quebra-mar à beira da noite, ondas-dedos de água esfacelam-se em apelos inúteis, ou são meus olhos marejados de lágrimas e indignação. Na profusão da dor, o corpo convulso de Nete se debate contra meu peito como ondas encrespadas, o estertor da morte nos envolve num sofrimento indizível - ilhas flutuantes sacolejados numa baía de lembranças desesperadas de um menino pés descalços e tez negra que a indolência de um médico naufragou.

A indignação ganha nome como um barco chegando a um cais abandonado: Absurdo! Abs...urdo! Ab... surdo...

Quando me dou conta já não mais sigo a linha do rio. De pé, diante da baía, vejo um carro negro a despejar um ataúde, dores esvaindo-se em prantos. E penso na vida como um sonho que vivemos num lapso de tempo da criação. A morte, uma ausência que guardamos sob o tapete colocado na soleira de nossas casas. De repente, descubro que as palavras levam-me a um destino desconhecido, ao abandono dos sentidos, que a morte é dúvida na qual sempre findamos.

Mas por quê aos 11 anos de Felipe? se Felipe corria com a vida, leve como o vento. Por quê, numa noite que perdeu-se no registro de um hospital, um médico não deu um pouco do seu tempo para tocar o coração de Felipe? Um médico que não o ouviu respirar, deixando-o suspenso numa noite de inverno.

Uma medicina que não sente o pulso e o ritmo de vida de um menino, que agora jaz ali cercado de dor, dor e dor por todos os lados, serve a que e a quem?

Há algo de errado com os homens em branco despejados das faculdades...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Move-me


I

Move-me a areia feita de pedras, sol e sal.
Movediça miragem de um deserto solitário,
onde se enterram segredos de conchas e estrelas.
Agonia-me a vida um mar profundo em que se afogam lembranças,
rastro inatingível de tristeza.

Minha vida é esse barraco abandonado na paisagem da minha janela,
de vidros estilhaçados e grades que me protegem do vazio e memórias alheias,
do nada que emerge da noite em lampejos de sombras e miados em cio,
de névoa envolvendo a cidade, alongando os dias,
- como a cortina que acoberta o passo de um bêbado trôpego no lixo da rua
a confundir a cor das folhas e o sentido das coisas.

II

As luzes frias postadas na rua me dão a falsa sensação de segurança.
O cheiro da terra pingada de chuva se mistura à fumaça em minha narina.
O vício é o vazio das coisas pintadas no claro-escuro da noite de minha janela.
Que sentido há na hera margeando calhas e cabos oxidados em busca do teto,
senão perder-se no abandono do casarão?
Qual o sentido da noite
outro que perseguir sonhos esquecidos no correr dos dias?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sobre o MST e laranjas

O texto MST e laranjas, de Mauricio Caleiro, publicado no dia 08/10 no blog Cinema & Outras Artes , que reproduzo abaixo, é um dos mais interessantes que já li sobre um movimento social tão odiado em todo o país. Se os Caiados e os Abreus do latifúndio nacional já o leram, devem detestar ainda mais o MST.
------------------------------------------------------------------------------

O MST é detestado por todos: da direita ruralista à esquerda chavista, passando por tucanos, petistas, psolentos, verdes, azuis e amarelos. Mesmo os que fingem apoiar o MST o detestam.

Isso porque há uma antipatia ancestral e inata contra o MST, esse arquétipo de nosso inconsciente coletivo, esse cancro irremovível que insiste em nos lembrar, mesmo nos períodos de bonança, que fomos o último país do mundo a abolir a escravidão e continuamos sendo uma porcaria de nação que jamais fez a reforma agrária.

O MST é o espelho que reflete o que não queremos ver.

Há duas questões, na vida nacional, que contradizem qualquer discurso político da boca pra fora e revelam qual é, mesmo, de verdade, a tendência ideologica de cada um de nós, brasileiros: a violência urbana e o MST. Diante deles, aqueles que até ontem pareciam ser os mais democráticos e politicamente esclarecidos passam a defender que se toque fogo nas favelas, que se mate de vez esse bando de baderneiros do campo, PORRA, CARAJO, MIERDA, MALDITOS DIREITOS HUMANOS!

O MST nos faz atentar para o fato de que em cada um de nós há um Esteban de A Casa dos Espíritos; há o ditador, cuja existência atravessa os séculos, de que nos fala Gabriel García Márquez em O Outono do Patriarca; há os traços irremovíveis de nossa patriarcalidade latinoamericana, que indistingue sexo, raça, faixa etária ou classe social:

O MST é o negro amarrado no tronco, que chicoteamos com prazer e volúpia.

O MST é Canudos redivivo e atomizado em pleno século XXI.

O MST é a Geni da música do Chico Buarque - boa pra apanhar, feita pra cuspir – com a diferença de que, para frustração de nossa maledicência, jamais se deita com o comandante do zeppelin gigante.

E, acima de tudo, O MST é um assassino de laranjas!

E ainda que as laranjas fossem transgênicas, corporativas, grilheiras, estivessem podres, com fungos, corrimento, caspa e mau hálito, eles têm de pagar pela chacina cítrica! Chega de impunidade! Como o João Dória Jr., cansei!

Jornalismo pungente

Afinal, foi tudo registrado em imagens – e imagens, como sabemos, não mentem. Estas, por sua vez, foram exibidas numa reportagem pungente do Jornal Nacional - mais um grande momento da mídia brasileira -, merecedora, no mínimo, do prêmio Pulitzer. Categoria: manipulação jornalística. Fátima Bernardes fez aquela cara de dominatrix indignada; seu marido soergueu uma das sobrancelhas por sob a mecha branca e, além dos litros de secreção vaginal a inundar calcinhas em pleno sofá da sala, o gesto trouxe à tona a verdade inextricável: os “agentes“ do MST são um bando de bárbaros.

(Para quem não viu a reportagem, informo,a bem da verdade, que ela cumpriu à risca as regras do bom jornalismo: após uns dez minutos de imagens e depoimentos acusando o MST, Fátima leu, com cara de quem comeu jiló com banana verde, uma nota de 10 segundos do MST. Isso se chama, em globalês, ouvir o outro lado.)

Desde então, setores da própria esquerda cobram do MST sensatez, inteligência, que não dirija seu exército nuclear assassino contra os pobres pés de laranja indefesos justo agora, que os ruralistas tentam instalar, pela 3ª vez, como se as leis fossem uma questão de tanto bate até que fura, uma CPI contra o movimento (afinal, é preciso investigar porque o governo “dá” R$155 milhões a “entidades ligadas ao MST”, mesmo que ninguém nunca venha a público esclarecer como obteve tal informação, como chegou a esse número, que entidades são essas nem qual o grau de sua ligação com o MST: O Incra, por exemplo, está nessa lista como ligado ao MST?).

A insensatez dos miseráveis

Ora, o MST é um movimento social nascido da miséria, da necessidade e do desespero. Eles estão em plena luta contra uma estrutura agrária arcaica e concentradora. Não se pode esperar sensatez de movimentos sociais da base da pirâmide social, que lutam por um direito básico do ser humano. Pelo contrário: é justamente a insensatez, a ousadia, a coragem de desafiar convenções que faz do MST um dos únicos movimentos sociais de fato transgressores na história brasileira. Pois quem só protesta de acordo com os termos determinados pelo Poder não está protestando de fato, mas sendo manipulado. Se os perigosos agentes vermelhos do MST tivessem sensatez, vestiriam um terno e iriam para o Congresso fazer conchavos, não ficariam duelando com moinhos de vento, digo, pés de laranja.

Mas é justamente por isso que o MST incomoda a tantos: ele, ao contrário de nós, ousa desafiar as convenções: ele é o membro rebelde de nossa sociedade que transgride o tabu e destroi o totem. Portanto, para restituição da ordem capitalista/patriarcal e para aplacar nossa inveja reprimida, ele tem de ser punido. Ele é o outro.

Quantos de nós já se perguntaram como é viver sob lonas e gravetos – em condições piores do que nas piores favelas -, à beira das estradas, em lugares ermos e remotos, sujeito a ataques noturnos repentinos dos tanto que os detestam? Quantos já permaneceram num acampamento do MST por mais do que um dia, observando o que comem (e, sobretudo, o que deixam de comer), o que lhes falta, como são suas condições de vida?

Poucos, muito poucos, não é mesmo? Até porque nem a sobrancelha erótica do Bonner nem o olhar-chicote da Fátima jamais se interessaram pelo desespero das mães procurando, aos gritos, pelos filhos enquanto o acampamento arde em fogo às 3 da madrugada, nem pelas crianças de 3,4 anos que amanhecem coberta de hematomas dos chutes desferidos pelos jagunços invasores, ao lado do corpo de seus pais, assassinados covardemente pelas costas e cujo sangue avermelha o rio.

Para estes, resta, desde sempre, a mesma cova ancestral, com palmos medidas, como a parte que lhes cabe neste latifúndio.

Para a mídia, pés de laranja valem mais do que a vida humana, quero dizer, a vida subumana de um miserável que cometeu a ousadia suprema de lutar para reverter sua situação.

Mas os bárbaros, claro está, são o MST.

Por isso, haja o que houver, o MST é o culpado.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Aeromoça

No avião, a tantos mil pés de altitude, descubro que existo porque vôo. Minha cabeça, ou melhor, o meu cérebro, é extensão do corpo do avião que plana sobre nuvens inconsistentes.

A força que me liga ao assento, sei, é a mesma que liga meu cérebro-corpo-avião à Terra: a gravidade. Daí veio a descoberta, conseqüência da primeira: sou dependente da mecânica do vôo.

E é assim que, contido nesse universo newtoniano, descubro a aeromoça, como num sonho metalingüístico.

Fantasma a assombrar os corredores? Átomos se recombinando? Ou anjo cujas asas lhe pregaram no peito?

Na paisagem interior do avião, a aeromoça é um mistério que conforta os medos, dissipa as inseguranças. É a realidade tangível do mito, superior a toda e qualquer mecânica. A aeromoça confunde-se com o avião, assim como este se confunde com as nuvens e os sonhos.

Afora os ansiosos que, por razões diversas de partidas e chegadas, e os morbidamente ligados à terra por alguma fobia ou trauma, muitos dormimos durante a viagem, crentes que um anjo nos vela.

Se é a aeromoça que fala nos interfones, mesmo que seja num francês sofrível, ou num inglês incompreensível, nos acalmamos, mas se é o comandante ou o co-piloto ficamos tensos à espera do pior; uma mensagem do tipo: Senhoras e senhores, lamentamos informar que um míssil vem em nossa direção. Por favor, apertem seus cintos de segurança e prestem atenção no aviso de não fumar. Em caso de aterrisagem forçada, nossas comissárias de bordo (outro nome que inventaram para as aeromoças) lhes mostrarão as saídas de emergência.

E aí temos a certeza - as aeromoças são anjos salvadores!

Talvez seja por isso que as cabines dos aviões, habitáculo dos comandantes, estejam sempre fechadas, herméticas a toda curiosidade dos passageiros. Elas, as cabines, fazem parte do estágio do sono em que não sonhamos, em que despertamos ao mais leve solavanco causado pela turbulência do vôo.

Ver o comandante desfilando pelos corredores do avião nos assusta, tal a visão de uma mula-sem-cabeça. A sua presença nos remete à idéia de dependência à maquina, aos temores do desafio do risco calculado, à projeção da fragilidade de nossas inteligências diante de forças além de nossas vontades.

E também, talvez, seja por isso que só nos lembramos do comandante quando chegamos sãos e salvos ao nosso destino, e até chegamos a aplaudi-lo.

Mas a aeromoça, ah, a aeromoça é aventura, sobrevôo de paises e cidades distantes que nunca conheceremos...

terça-feira, 21 de julho de 2009

É bem ali...



- A ilha que procuras é aquela do outro lado do rio. Nunca te esqueças, menino, dos que por aqui fizeram a travessia.

Ensina-me o ancião, sentado à sombra do mercado municipal de Abaetetuba.

Bem ali, onde as águas dos rios Tocantins e Abaeté se encontram para formar a Baia de Marapatá, ele me indica o longo caminho percorrido.

Não te esqueci, velho. Teu sorrisso melancólico de uma juventude quilombola; tuas mãos calosas construtoras de destinos agora percorrem caminhos que jamais imaginaste.

Transformei-te em chuvas quânticas que molham redes atadas nos tantos cantos do mundo; em ventos de elétrons portadores de histórias.

Agora, velho quilombola, teu gesto, teu sorriso, teu nome forte e valente de origem, Abaeté, são lembranças desse mundo efêmero...


(Foto feita em 17/07/09 durante reportagem para o Incra, sobre projeto agroextrativista criado na ilha de Campompema, município de Abaetetuba-PA. Modelo Canon EOS Digital Rebel; 1/80s; f /6,3; 55 mm; ISO 100)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Abaixo-assinado em apoio ao jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto

Além da solidariedade financeira ao Jornal Pessoal , através de depósitos de qualquer quantia na conta publicada no post anterior, os apoiadores de Lúcio Flávio Pinto criaram um blog que está reunindo adesões a um abaixo-assinado contra a decisão togada do Meritíssimo das Chagas.

Para assinar basta
postar aqui um comentário com nome e RG.

Assine.

ABAIXO-ASSINADO EM APOIO AO JORNALISTA PARAENSE LÚCIO FLÁVIO PINTO

O repórter e editor do Jornal Pessoal, de Belém do Pará, Lúcio Flávio Pinto, foi condenado pelo juiz Raimundo das Chagas Filho, da 4ª Vara Cível da capital, a pagar uma indenização de R$ 30 mil aos irmãos Romulo Maiorana Júnior e Ronaldo Maiorana, proprietários das Organizações Romulo Maiorana, uma das empresas de comunicação mais influentes da Região Norte, cuja emisssora de TV é afiliada à Rede Globo. A sentença, expedida no último dia 6 de junho de 2009, refere-se a uma das quatro ações indenizatórias movidas pelos irmãos contra o jornalista que, em 2005, publicou artigo em um livro organizado pelo jornalista italiano Maurizio Chierici, depois reproduzido no Jornal Pessoal, no qual abordava as atividades de contrabandista do fundador das ORM, Romulo Maiorana, nos anos de 1950, o que teria motivado a ação, pois os irmãos consideraram ofensivo o tratamento dispensado à memória do pai. Além da indenização por supostos danos morais, o juiz ainda obriga o jornalista a não mais referir-se aos irmãos em seus próximos artigos.

Lúcio Flávio Pinto, de 59 anos, em quatro décadas de jornalismo é um dos profissionais mais respeitados no Brasil e no exterior. Seu Jornal Pessoal resiste, de forma alternativa, há 22 anos, sem aceitar patrocínio ou anúncios, garantindo a independência de seu editor frente aos temas públicos do Pará, sobretudo na seara política. Por sua atuação intransigente frente aos desmandos políticos, às injustiças sociais e ao desrespeito aos direitos humanos, recebeu prêmios internacionais importantes: em 1997, em Roma, o prêmio Colombe d’oro per La Pace; e em 2005, em Nova Iorque, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection). Além disso, é premiado com vários Esso. É também autor d e 14 livros, tendo como tema central a Amazônia, sendo os mais recentes “Contra o Poder”, “Memória do Cotidiano” e “Amazônia Sangrada (de FHC a Lula)”.

Esse fato demonstra o que significa fazer jornalismo de verdade na capital do Pará: uma condenação.

Por isso, nós, abaixo-assinados, solidarizamo-nos com Lúcio Flávio Pinto, pedindo a revisão de sua condenação em nome da democracia e da liberdade de pensamento.

sábado, 11 de julho de 2009

Campanha da moedada

A campanha de apoio ao Lúcio Flávio Pinto começa a tomar forma na internet.

Vários blogs já estão chamando os internautas para colaborarem com qualquer quantia. A conta é:

Lúcio Flávio Pinto
UNIBANCO (banco 409)
Conta: 201.512-0
Agência: 0208
CPF: 610.646.618-15

Os blogs do Ildeber Avelar e do Barata já estão com posts convidando os internautas a partiparem da campanha, que ganhou mesmo um nome: Campanha da Moedada.

Apoio financeiro ao Lúcio

Por serem vastos os nossos corações, e os do das Chagas e dos Maiorgranas uma pobre rima cruzada, creio que devemos pensar na possibilidade de ajudar o Lúcio Flávio a pagar o pato, caso não ganhe o recurso e se a altivez de rico empresário que é, assim o permita (imagina, quem vende jornal pra classe estudantil só pode ser milionário).

Falo de uma vaquinha, de uma campanha para manter vivo O Pessoal, exatamente pelas razões apontadas pelo juiz, isto é, para que LFP continue a nos repassar informações inverídicas e a ofender a moral subjetiva de toda a gente de bem da Terra de Direitos.

Quem julga os juízes?

É uma questão que sempre ressurge diante de decisões classistas, como a do juiz Raimundo das Chagas que, sem blague, lembra-me "A face que ninguém vê", de Drummond, in Poema de sete faces:

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O deboche do juiz

Ao juiz das Chagas, que condenou Lúcio Flávio a só falar bem do finado contrabandista Romulo Maiorana, não bastava abanar o rabo e lamber a mão do amo - tinha de morder a jugular d'O Pessoal, que ele julga estar no bolso, para demonstrar sua bravura e lealdade.

Usou mesmo da ironia para isso, levando-a ao limite do cinismo, ao afirmar que "A capacidade de pagamento dos requeridos é notória, porquanto se trata de periódico de grande aceitação pelo público, principalmente pela classe estudantil, o que lhes garante um bom lucro."

A jocosidade do juiz, em nome do "caráter preventivo e educativo" da decisão togada, chega mesmo a insinuar que Lúcio Flávio mentiu/ofendeu para aumentar a venda de O Pessoal.

O rabulento não ousou usar a palavra "sensacionalismo", mas na lógica do que escreveu, poderia; não é essa uma das características do sensacionalismo?

segunda-feira, 22 de junho de 2009


Na Vila do Paraíso, município de Anajás (PA), no arquipélago do Marajó, um barco em reforma ainda mantinha os assentos sanitários em "exposição", criando uma situação engraçada.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Terra dos meus horizontes

Encontro no céu e mar
a Terra dos meus horizontes.
Neles navego velas e chamas
Ao crepúsculo do que fui
À aurora do serei
me descubro tantos
sabendo quem sou
Menino descalço calção pés no chão
feito de água barro e lendas.

- Cruz credo, menino, é hora do Angelus, sai daí senão a Mãe d'Água te mundia.

Ave-Iara, Ave-Boto, fazei-me perder nesse mundo de poesia.

Sobre o blog Terra e Poesia

.
Terra é poesia. O nome do blog me veio numa releitura do poema A Propósito Disto (ou Por Falar Disto), escrito em 1923 pelo poeta russo Vladimir Maiakóvski.

No final do poema, versando sobre o Amor, que é o "disto" do título do longo poema, Maiakovski apela para que a família seja "o pai, pelo menos o Universo; a mãe, pelo menos a Terra". O trecho tem uma versão musicada de Caetano Veloso, com uma interpretação magnífica de Gal Costa.

Pois foi reencontrando um dos meus poetas amados que tive a idéia de construir este blog. Com Terra no sentido de planeta, nossa nave-mãe que tanto maltratamos. Mas também com o sentido da terra mal-distribuída, a dos sem-terra, que dela precisam para viver.

Em um país que apresenta um dos mais elevados indices de concentração de terra, reflexo da concentração de riquezas (e vice-versa), a questão agrária não poderia ficar de fora deste blog. Até porque o interesse pela questão me levou ao cargo de assessor de comunicação da superintendência regional de Belém do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), onde estou desde 2005.

E desde já fica uma observação: a questão agrária não se resume na reforma agrária e regularização fundiária, vai bem além disso.

Então a Terra deste blog assume a polissemia própria da poesia. A multiplicidade dos sentidos, que inclui a Política, a Filosofia, a Comunicação Social e uma área na qual trabalhei durante anos como repórter, a fotografia.

Este é o princípio de Terra e Poesia. Um carnet de bord* do caminho a ser construído na caminhada.

*O uso da expressão francesa, no lugar de diário de bordo da língua portuguesa, ocorre pelo fato da segunda indicar uma atualização que não me é possível no momento.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ocupar não é o mesmo que invadir

Durante a entrevista com o superintendente, a repórter Aycha Nunes indagou o porquê dos gestores e servidores utilizarem a palavra ocupação em vez de invasão.


Queria complementar aqui a explicação dada pelo gestor da SR-01. Nós, os jornalistas que atuam nas assessorias de comunicação do Incra, entendemos que se trata, sim, de uma disputa ideológica no campo minado e de areias movediças das palavras, que é o campo semântico.
Em cada uma delas há um campo de significados que expressam concepções diferentes quanto AOS OBJETIVOS E METODOS DAS REIVINDICAÇÕES dos movimento sociais, e das relações envolvendo as diferentes partes.


Para nós, ocupação tem a ver com legitimidade histórica dos movimentos populares em geral. Remete a dar trabalho; conquista de direitos através da organização e mobilização social.


Invasão é o que faz, por exemplo, os EUA no Iraque, e o que já fizeram por muitos países afora. Uma apropriação pela força armada, ilegal, ilegítima e imoral. Invasão está relacionada a isso.


Um exemplo de disputa em que a filosofia perdeu a guerra é a palavra radical, que vem do latim radicare, raiz. Quem era radical "pegava" as coisas do mundo pela raiz, pelas causas. Isso se tornou tão subversivo e perigoso que tal sujeito foi transformado em extremista. Quando dizem que o MST ou o Islã é radical, querem dizer extremista. E assim ficou...

O Incra esclarece

Sobre matéria publicada na edição de domingo, 17/05, pagina 7 de O Liberal, sob o título "Incra doa 18,3 mil cestas para o MST", a superintendência regional do Incra em Belém esclarece que:


A repórter Aycha Nunes, de O Liberal, apresentou-se à Assessoria de Comunicação desta autarquia com uma pauta sobre ações do governo federal no estado do Pará, que incluía as ações do órgão fundiário.


Ao longo de uma semana, ela obteve dos assessores de comunicação das três superintendências regionais do Incra no Pará todas as informações solicitadas, inclusive em material impresso e digital com dados precisos sobre as ações do Incra Belém no período 2003-2008.


Em entrevista exclusiva com o superintendente, Elielson Silva, ela teve ampla liberdade para tirar todas as dúvidas sobre os critérios e normas legais adotados pelo órgão para pôr em prática tais ações.


Mas, apesar de todas as informações repassadas à repórter, a matéria publicada no domingo, de forma confusa, distorceu os dados apresentados e tirou do contexto as declarações do superintendente. A distorção começa pela manchete da matéria, que põe o MST como único beneficiário do programa Fome Zero, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome (MDS) e executado pelo Incra em sua área de atuação. O maniqueísmo fica evidente - pretendeu-se criminalizar os movimentos sociais e tirar toda a legitimidade de uma política social, que visa, de fato, ajudar famílias que vivem em insegurança alimentar.


Em nenhum momento foi dito à repórter que o Incra distribui "mensalmente" cestas básicas às famílias acampadas. Não procede assim, a multiplicação feita pela reportagem para se chegar a "um investimento (anual) de R$ 44.828.795,52". Até porque a cesta básica, a mesma que vem sendo distribuída pelo governo federal aos desabrigados pelas enchentes no Pará, sai ao custo de R$ 45,00, bem abaixo dos R$ 203,04 calculados pelo Dieese.


O número apresentado à repórter, de 18.399, que consta no banco de dados da Ouvidoria Agrária Nacional, corresponde ao número de famílias cadastradas no programa Fome Zero através das Ouvidorias regionais do Incra, no período 2008/2009, e não ao de distribuição mensal de cestas básicas.

Tampouco os sem-terra são beneficiados pelas ações do Incra, de forma simultânea, como o texto parece sugerir.


O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) tem como público-alvo jovens e adultos trabalhadores rurais; os que não estão inclusos na relação de beneficiários da reforma agrária acessam somente a alfabetização, enquanto os assentados têm direito aos cursos de nível fundamental, médio, técnico e até superior oferecidos pelo Pronera . Já o Programa de Documentação da Mulher Trabalhadora Rural, mais conhecido como mutirão da documentação, tem como público prioritário as mulheres do campo, que, segundo dados do IBGE, são as que mais padecem da sub-documentação.


Os mutirões, a exemplo do que o Incra/MDA vêm fazendo no Baixo-Tocantins e região do Marajó, atendendo comunidades ribeirinhas, são realizados em parceria com a Polícia Civil, Ministério do Trabalho, INSS, cartórios e prefeituras municipais. O objetivo principal é garantir os direitos básicos para a formação de um cidadão, através da emissão da documentação pessoal. E como não poderia deixar de ser, os mutirões também atendem os familiares dessas mulheres, que assumem cada vez mais o lugar de chefe de família, sejam elas e eles ocupantes ou detentores de alguma posse fundiária. Afinal, mesmo os sem-terra têm direito ao acesso à cidadania.


Talvez a inexperiência da repórter, aliada ao tratamento editorial dado à matéria, esteja na origem das confusões do trabalho jornalístico feito durante toda uma semana. Em todos os contatos mantidos ela não citou o caso do Sr. Ney Rocha. Se o tivesse feito, ficaria sabendo que a Ouvidoria Agrária do Incra, no cumprimento de seu dever institucional, intermediou o conflito entre o Sr. Rocha e as famílias que ocuparam a terra da qual ele se diz proprietário.

A intermediação incluiu a participação em reuniões realizadas na Vara Agrária de Castanhal, para se chegar a uma solução pacífica do problema. A partir da liminar de reintegração de posse, toda ajuda às famílias foi suspensa. Outro motivo foi a constatação de que a área, por ser pequena e situada em terras públicas do Estado, não corresponde aos critérios de desapropriação para fins de reforma agrária. Critérios, além de outros, explicados detalhadamente à repórter quando da entrevista concedida pelo superintendente.


Assim como o Incra não pode controlar a opinião do Sr. Ney e a do jornal, também não pode permitir que lideranças de movimentos sociais utilizem o nome da instituição. Se a Sra. Helena Gomes declarou que os ocupantes da área "recebiam do Incra tudo que precisavam", ela faltou com a verdade. Assim como o Sr. Ney, ao afirmar que "mesmo após a ordem judicial, os sem-terra continuaram recebendo apoio do Incra".

As ações do Incra seguem as orientações políticas de um Poder Executivo legitimamente constituído; estão balizadas nos preceitos constitucionais e sujeitas ao controle dos outros Poderes.


O Incra reafirma que continuará a cumprir a missão para a qual foi criado – a de promover a distribuição de terras com base na função social da propriedade; contribuir para a melhoria da qualidade de vida no meio rural e o desenvolvimento sustentável do país.


Belém, 19 de maio de 2009

Superintendência Regional do Incra no Estado do Pará (SR-01)

A dificuldade de falarmos sobre nós mesmos 2

Passo a palavra ao sociológo francês, no momento em que fala de "Uma censura invisível", em "Sobre a Televisão" (Bordieu, Pierre; Jorge Zahar Editor; 1997):

"A análise sociológica choca-se frequentemente com um mal-entendido: os que estão inscritos no objeto de análise, neste caso particular os jornalistas, tendem a pensar que o trabalho de enunciação, de desvelamento dos mecanismos, é um trabalho de denúncia, dirigido contra pessoas ou, como se diz, "ataques pessoais" (...)

E prossegue: "Eles se sentem visados, alfinetados, quando, ao contrário, quanto mais se avança na anáslise de um meio, mais se é levado a isentar os indivíduos de sua responsabilidade - o que não quer dizer que se justifique tudo o que se passa ali (...)"

A dificuldade de falarmos sobre nós mesmos 1

Quando escrevi o artigo sobre as cestas fictícias de O Liberal, publicado inicialmente no Quinta Emenda, recebi alguns emeios de colegas jornalistas, muitos se solidarizando e poucos me acusando de ser antiético e de puxasaquismo, dentre outros elogios.

As acusações de que achincalhei, que faltei com o respeito e que fui irônico com a colega me levaram a refletir ainda mais sobre as dificuldades que os jornalistas temos para debater o nosso próprio trabalho. A questão foi magnificamente abordada pelo sociólogo francês Pierre Bordieu, que deveria ser leitura obrigatória nos cursos de Comunicação Social, se ainda não o é.

Meu objetivo principal, conformei expliquei a um desses críticos, era debater a composição da forma x conteúdo da reportagem, para indicar as distorções do trabalho jornalístico, que envolve desde a coleta das informações até o tratamemto editorial da matéria.

Não visava particularmente o trabalho da repórter, nem esclarecer os fatos do ponto de vista do Incra, mas apontar as contradições do nosso trabalho enquanto jornalistas, sujeito à diversas manipulações.

O fato de mencionar a ausência da assinatura da repórter na matéria é uma indicação de que seu trabalho foi utilizado, editado, para fins além da reportagem. Mas, concordando com Bordieu, isso por si só, não exime o jornalista de suas responsabilidades.

As cestas básicas fictícias de O Liberal

"Quantas vezes você mentiu hoje? (...) Para a psicóloga Oneglia Nazareth, a mitomania é uma tendência mórbida que desfigura o processo de comunicação, pois atinge tanto o emissor quanto o receptor da mentira'. (...) Para outra psicóloga, Cinthia Labratti, 'a mitomania é uma das características visíveis de quem sofre por não conseguir lidar com a sociedade'. (...) Segundo as especialistas, é possível perceber quando estamos diante de um mitômano devido às inconsistências do seu discurso." (...) Os maiores mentirosos revelados pela pesquisa de Jellison são pessoas com maior número de contatos sociais: vendedores, auxiliares de consultórios médicos, advogados, psicólogos e jornalistas. (grifo meu)"

Os trechos acima fazem parte de uma matéria publicada em O Liberal, edição de 19/04/2009, com o título "Hábito de contar mentiras é doença?", assinada pela repórter Aycha Nunes.

Quase um mês depois a repórter esteve na superintendência regional do Incra de Belém à procura de informações sobre as ações da autarquia fundiária no Estado do Pará, no contexto de uma pauta sobre ações do governo federal, segundo explicou à assessoria de comunicação do órgão. Durante uma semana ela solicitou e obteve as informações desejadas. A matéria foi publicada no domingo (17/05), com o título "Incra doa 18,3 mil cestas para o MST", sem a assinatura da repórter.

Causou mal-estar e indignação entre os servidores do Incra.

A matéria, no conjunto da edição de domingo, manifesta em toda a sua plenitude as concepções ideológicas e as correlações de forças existentes no contexto em que o Incra atua.

É um primor de concisão das técnicas manipulatórias utilizadas pelos jornalões, amplamente analisadas pelos jornalistas Perseu Abramo e Aloysio Biondi em "Padrões de manipulação na grande imprensa" (Fundação Perseu Abramo; 2003) e Arbex Jr em "Jornalismo Canalha" (Casa Amarela; 2003), dentre outros.

A chamada de capa anunciava o tom da matéria - "Incra torra 44 milhões em comida para o MST - Instituto entregará este ano 220 mil cestas em áreas ocupadas ilegalmente no Pará". Na página 7 de Atualidades veio o título, em seis colunas, seguido do "olho", que dizia: "Acampados - Dinheiro público é utilizado para pagar alimentação dos invasores".

O tratamento editorial dado à matéria deixa claro os objetivos do jornal: criminalizar os movimentos sociais rurais, principalmente o MST ( O Grande Satã), e de deslegitimar as políticas sociais do governo federal voltadas para o meio rural. A formulação tendenciosa do título, colocando o MST como único beneficiário de uma ação governamental, relacionada à contraposição dos termos "dinheiro público" e "invasores" do subtítulo indicam isso. E quem editou sabe perfeitamente que a maioria das pessoas lêem (ou vêem) principalmente os titulos e os "ollhos" da matéria.

E para os que não entenderam direito a posição do jornal (e a dos seus aliados) sobre os sem-terra, a página 4 do caderno PODER (!) põe por terra toda dúvida. Nela se encontra a sacrossanta voz do "agronegócio" paraense, o presidente da Faepa, Carlos Xavier. "Empresário condena invasões e saques", dizem no título, de seis colunas, Xavier e o editor de domingo de O Liberal. O olho arremata: "Campo minado - Dirigente da Faepa cobra cumprimento da lei para conter os sem-terra" (por que será que fizeram esse joguinho de palavras?).

No corpo da matéria, assinada por Keila Ferreira, o empresário analisa que alguns movimentos sociais não tem nada de social, que "querem impor uma composição ideológica para todos nós e, sobretudo, com desvios de recursos da sociedade de forma assustadora (grifos meu)".

Segundo ele, os sem-terra saqueiam, invadem, matam, roubam, arrassam com o desenvolvimento, atrapalham o desenvolvimento e chegam mesmo a ameaçar a força da imprensa. Ao final do texto descobrimos que é justamente por causa que os sem-terra fazem tudo isso que seus colegas de infortúnio da Associação Comercial do Pará vão lhe dar o prêmio de melhor empresário do ano.

Não entenderam ainda? Então voltemos à matéria da página 7 que, repito, não veio assinada pela Aycha Nunes. Ela começa assim: "O Pará recebeu durante o mês de abril R$ 3.735.732,96 em forma de cestos de alimentos. (...) 18.399 cestas básicas (distribuídas pelo Incra)". Segue-se uma ressalva, "A comida, no entanto, não alimentou nenhuma das 1.740 famílias que estão desabrigadas por causa das enchentes no Estado". Mais adiante vem um raciocínio matemático para se chegar à quantia exata desse desperdício anual, de R$ 44.828.795,52, posto que não serviu a nenhuma causa humanitária (o texto não afirma isso, no entanto...). A exatidão é para não deixar nenhuma dúvida quanto aos cálculos, respaldados por dados de pesquisa de uma entidade na qual se pode confiar: o Dieese.

Quem vai duvidar de tudo isso? Se os supostos dados foram repassados pelas assessorias e até o superintendente diz, com direito a foto de 4 colunas, que "Incra reafirma que mesmo os invasores têm direito de receber alimentos", (título secundário em seis colunas); e não só alimentos, mas todo um conjunto de ações para que continuem a atormentar os agroempresários. Dentre eles, servindo de exemplo (maniqueista) uma alma caridosa, de nome Ney Rocha, que "resolveu doar parte de suas terras", um benfeitor da reforma agrária, como tantos outros agroempresários (é uma nomenclatura nova...).

Onde estão as distorções? Está no valor de cada cesta e na suposta mensalidade de distribuição das mesmas, além de declarações retiradas de seu contexto. As cestas não são distribuidas mensalmente pelo Incra e nem têm o mesmo valor daquela calculada pelo Dieese.

O texto que segue mais abaixo, com esclarecimentos da superintendência regional do Incra no Pará (SR-01) sobre o que foi publicado, e enviado pela Ascom ao jornal, dá outras explicações. Inútil repetí-las aqui.

Restou o silêncio de O Liberal sobre os esclarecimentos prestados, até o presente momento.

Daí volto ao início deste texto: - Quantas vezes você mentiu hoje?

Creio que ainda há tempo para debatermos sobre isso...